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A DIPLOMACIA DO INTERESSE

Por Michel Teixeira¹

Não existe amizade entre países. Existe comércio, existe interesse, existe cálculo. As nações se cumprimentam, trocam presentes diplomáticos, assinam tratados com longas fotografias oficiais, mas, no fundo, cada uma guarda em si a velha lógica do mercado: comprar o mais barato possível e vender pelo preço mais alto que o outro puder pagar.

É essa a engrenagem da chamada guerra comercial contemporânea, onde aliados históricos são descartados sem cerimônia e ideologias, outrora bandeiras de convicção, viram apenas ornamentos de discursos vazios. No tabuleiro da economia global, não há espaço para sentimentalismo.

A história se repete, mas nunca do mesmo jeito. Se na modernidade o mercantilismo coroou Espanha e Portugal como donos das rotas marítimas, e se no pós-Segunda Guerra os Estados Unidos ergueram-se como hegemon incontestável, agora o que se desenha é uma nova ordem: multipolar, tensa, disputada. China, Estados Unidos, União Europeia e Rússia se enfrentam como gigantes que competem não apenas com tarifas e subsídios, mas com narrativas, influência cultural e poder tecnológico.

As tarifas, o protecionismo e os acordos rompidos são as armas visíveis dessa guerra silenciosa. Mas por baixo delas corre um rio mais profundo, que mistura a precariedade social crescente com a chama perigosa do nacionalismo exacerbado, esse mesmo que se converte, sem demora, em preconceito, em xenofobia, em divisão. É a panela de pressão do nosso tempo, cada vez mais ruidosa, lembrando inquietantemente o ambiente que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.

E como se não bastasse a disputa econômica, temos as bombas: na Ucrânia, na Palestina, nos choques entre Israel e Irã, nos discursos inflamados de líderes que ameaçam reacender incêndios globais. O mundo parece girar entre o comércio e a pólvora, como se cada tarifa viesse acompanhada de um míssil, cada tratado seguido de uma ameaça.

Para onde vamos? Talvez para um novo equilíbrio que ainda não sabemos nomear. Talvez para um colapso que já não conseguimos evitar. Mas se há algo que a história nos ensina é que a humanidade sempre caminha entre a destruição e a reinvenção. A pergunta que fica, diante dessa encruzilhada, é se teremos sabedoria para escolher o caminho que preserva a vida ou se, mais uma vez, vamos aprender apenas depois de ver as cinzas.


¹ Michel Teixeira é economista formado pela Universidade Mackenzie, com estudos em Engenharia Financeira na USP. Atualmente, atua como consultor de políticas públicas e de projetos de Parceria Público-Privada (PPP), além de assessor técnico da presidência do IDENE.