Por Michel Teixeira
A decisão do presidente Donald Trump de aplicar tarifas de até 50% sobre produtos importados do Brasil reacendeu o debate sobre o protecionismo nos Estados Unidos. A medida, com claro interesse político, pode trazer prejuízos econômicos ao Brasil, mas também ameaça desorganizar setores estratégicos da própria economia americana.
O Brasil exportou 40 bilhões de dólares em 2024 para os EUA, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. A pauta inclui principalmente produtos agrícolas como café, soja e carne, além de minerais como minério de ferro, alumínio e aço. Mesmo sendo produtos com pouco valor agregado, o impacto de uma tarifa nesse nível é relevante.
O exemplo do café é simbólico. Os Estados Unidos são o maior consumidor mundial da bebida, e o Brasil é responsável por cerca de 25% das importações americanas. Com a tarifa de 50% prevista para entrar em vigor em primeiro de agosto, o comércio do grão pode se tornar inviável. O reflexo seria direto no bolso do consumidor americano.
Caso a tributação seja mantida, os produtos brasileiros ficarão mais caros no mercado americano, o que pode derrubar a competitividade das exportações nacionais. Uma redução de apenas 10% nas exportações já representaria uma perda de mais de 4 bilhões de dólares por ano, afetando setores importantes do agronegócio e da indústria brasileira.
Ou seja, o Brasil também sentirá o baque. Produtores nacionais, especialmente do setor primário, podem perder espaço em um de seus principais mercados. Isso significa menor receita, redução de empregos e pressão sobre a balança comercial.
Além dos produtos agrícolas e minerais, é importante destacar um item estratégico: combustíveis e lubrificantes. Em 2024, o Brasil exportou 7,53 bilhões de dólares desse tipo de produto para os Estados Unidos, o que representou cerca de 5% do total de combustíveis importados pelos americanos no ano. Trata-se de um volume expressivo, com peso direto na balança comercial. A aplicação de tarifas sobre esse segmento pode gerar impactos relevantes para as refinarias brasileiras e aumentar os custos de produção e refino nos EUA.
Apesar disso, o Brasil tem se preparado com mais acordos e mercados estratégicos. A China, por exemplo, já responde por mais de 30% das exportações brasileiras. Isso ajuda a reduzir a dependência dos Estados Unidos e abre caminho para novas oportunidades.
Vale lembrar que a indústria dos Estados Unidos depende de insumos brasileiros como minério de ferro, alumínio e produtos semimanufaturados do setor siderúrgico, fundamentais para áreas como construção civil, automóveis e tecnologia. Ao criar barreiras contra o Brasil, os EUA podem ser forçados a comprar de fornecedores menores, menos eficientes ou mais caros. O resultado seria aumento no custo de produção, pressão sobre os preços e perda de competitividade.
Substituir o Brasil não é simples. O país tem escala, capacidade logística e previsibilidade para atender grandes demandas. A taxação, em vez de proteger, pode enfraquecer a indústria americana.
Se fosse uma ação coordenada por vários países, o efeito seria mais difícil de enfrentar. Mas, sendo uma medida isolada e com interesse político, o Brasil tem margem para reagir e proteger seus setores produtivos.
Trump tenta demonstrar força ao atacar o Brasil, mas pode acabar atingindo o próprio motor da economia americana. Nesse jogo de tarifas e bravatas, quem pode perder mais é quem tenta posar de vencedor.
Michel Teixeira
É sócio Fundador do IDENE, economista formado pelo Mackenzie, com especialização em Engenharia Financeira pela USP. Possui experiência na elaboração de projetos de Parcerias Público-Privadas (PPPs) e na formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico e social.